Amor e maldição

Não foi pouca ou ao acaso a divulgação de que  Dezesseis Luas  ( Beautiful Creatures , Estados Unidos, 2013) seria um substituto à sér…

Não foi pouca ou ao acaso a divulgação de que Dezesseis Luas (Beautiful Creatures, Estados Unidos, 2013) seria um substituto à série Crepúsculo, a qual teve seu último de cinco filmes lançado no fim do ano passado e arrecadou um total superior a três bilhões de dólares em bilheterias mundiais. Também um romance adolescente com pé no sobrenatural, porém, esta produção dirigida por Richard LaGravenese (roteirista de O Pescador de Ilusões e As Pontes de Madison, para ficar nos seus melhores trabalhos) se mostra satisfatoriamente mais bem desenvolvida e envolvente do que uma comparação inadequada poderia fazer supor. Os protagonistas, interpretados por Alden Ehrenreich e Alice Englert com enormes carisma e talento, formam um casal de sentimentos evidentes por cuja paixão vale torcer. As partes secundárias são entregues a atores estabelecidos (Jeremy Irons, Emma Thompson, Viola Davis), que têm chance de oferecer alguns bons momentos e equilibrar a narrativa quando o foco sai da relação central. O roteiro, baseado no primeiro de uma série de livros escrita por Kami Garcia e Margaret Stohl, é enriquecido pela defesa à mente aberta e ao pensamento crítico, fazendo fartas citações a obras clássicas da Literaturaescarnecendo a intolerância e oferecendo alguns insights pertinentes sobre divindade e crença — apesar de serem temas que o filme apenas tangencie, quando não eventualmente até se furte deles. Soma, no entanto, mais do que se acostumou a esperar de produções oriundas de sucessos de massa de público-alvo pré-definido (aqui, o gênero young adult), e por isso mesmo suas falhas, flagrantes e por vezes constrangedoras (os arrombos da trilha sonora, os efeitos digitais ordinários, a cafonice de algumas situações), parecem importar pouco. São problemas que facilmente poderiam ser evitados em continuações, caso a bilheteria desse filme as permitisse  pois Dezesseis Luas, que entrou em cartaz há quase um mês nos Estados Unidos, sequer conseguiu cobrir seu orçamento. A história, enfim, é de um garoto que se apaixona pela menina misteriosa que chega à sua cidade, uma "conjuradora" às vésperas de completar dezesseis anos  data em que, afinal, sua natureza má ou boa se evidenciará. Há maldições e determinações, claro, para a impossibilidade de relacionamento entre bruxos e humanos, e é contra eles que seu amor deve prevalecer. Mais que o desenrolar dos eventos, entretanto, são os dois atores o centro sobre o qual o filme se sustenta: ele, descoberto por Steven Spielberg e já tendo atuado nos dois últimos trabalhos de Francis Ford Coppola, exprime com sensibilidade a determinação, dedicação e resolutividade de seu personagem; ela, filha da diretora Jane Campion, comove com a responsabilidade e razão capaz de sacrifícios que passa a seu papel. Juntos, irradiam a tela (e felizmente o filme não teme ser sensual). Mas talvez seja a única oportunidade de vê-los assim.


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