Jogo de disfarces

A Negociação   é a recém o primeiro longa-metragem de ficção do diretor e roteirista Nicholas Jarecki, mas também um trabalho sólido de…


A Negociação é a recém o primeiro longa-metragem de ficção do diretor e roteirista Nicholas Jarecki, mas também um trabalho sólido de construção de trama e personagens. Robert Miller é um homem de negócios que está prestes a vender sua empresa, segundo diz à esposa e aos filhos, para poder passar mais tempo com eles. Num jantar de aniversário (em que se faz notar sua benevolência e carinho, e especialmente sua função patriarcal), ele lhes fala de quanto tempo levou para perceber o que realmente importava, e que agora sua agenda estaria voltada para a família. Na mesma noite, no entanto, está se encontrando com a amante, uma pintora que ele está ajudando a se estabelecer e a quem também faz promessas para o futuro. A verdade é que as contas de sua companhia apresentam um rombo milionário de dinheiro fraudado, que ele está tentando encobrir com empréstimos para então vendê-la insuspeita — e assim quitar seus credores e ainda ficar com um boa quantia para si. Se os planos de Miller já estavam sendo dificultados pelas frequentes evasivas do futuro comprador, eis que toda situação torna-se mais complexa quando a sua filha, também funcionária na empresa, começa a notar discrepâncias na contabilidade, e mais ainda quando ele é responsável por um acidente de carro que leva à morte da amante — então fugindo da cena do incidente. É com toda essa sorte de eventos e suas repercussões que Miller deverá lidar para que consiga fechar seu negócio, e até aí o diretor já envolveu tanto o espectador na trama que este é capaz de relevar a sordidez do protagonista em favor da tensão do desdobrar da história. Richard Gere está excelente no papel principal, mas não só: Brit Marling, que faz sua filha, e Nate Parker, que interpreta o filho de um empregado da família a quem Miller recorre no momento do acidente, recebem as subtramas mais interessantes e tiram grandes momentos dramáticos dali. Talvez o terço final perca um pouco ao apelar para o lado da esposa (Susan Sarandon), que tudo sabe, nada fala, mas que também sabe jogar e defender seus interesses (esses, mais dignos, mas que curiosamente surgem deslocados). Porém, A Negociação conclui cínico como deveria ser, e não menos um reflexo dos tempos — em que crimes e corrupções geralmente não têm seus responsáveis condenados; em que, como já indica tão enfaticamente o slogan do filme, o poder é o melhor álibi.

Postar um comentáriofacebookdisqus

0/0 Comentários/Comentários

A+
A