"Songs of Innocence", o novo disco do U2

Quando lançado, em 2009, "No Line On The Horizon" causou estranheza até nos fãs mais fervorosos do U2 . Era um disco, no mínimo…

Quando lançado, em 2009, "No Line On The Horizon" causou estranheza até nos fãs mais fervorosos do U2. Era um disco, no mínimo, diferente do que o grupo apresentou ao longo da carreira. Mais do que diferente, era um álbum bastante conceitual, difícil à 'primeira escutada' e praticamente sem hits comerciais (a exceção era a grudenta "Get on your boots", que destoava até em qualidade das demais composições). Cinco anos depois, os irlandeses estão de volta não apenas com disco novo, mas de volta com um disco com a cara do U2. Desta vez, não há estranheza alguma: "Songs of Innocence" é exatamente o que se espera de Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr. E isso não é pouca coisa.

Lançado gratuitamente via iTunes, durante uma coletiva de imprensa da Apple, o novo álbum revira o baú de memórias da banda e encontra, em cada uma de suas diferentes fases, ingredientes para compô-lo. De referências à própria sonoridade - sobretudo nas décadas de 80 e 90 - e a ídolos de Bono e Cia., "Songs of Innocence" não soa, porém, como uma obra datada ou excessivamente nostálgica. Acostumado a se reinventar ao longo de seus 12 discos anteriores, dessa vez o U2 apenas busca em um passado onde dava as cartas no mundo do pop uma maneira de voltar a ser relevante em um presente onde a concorrência é ferrenha. Não por acaso, o frontman admitiu, durante o hiato de cinco anos desde "No Line On The Horizon", temer que o grupo tivesse ficado irrelevante.



Não chega a tanto, mas as vendas acanhadas e a recepção morna do público com o disco provavelmente obrigaram o quarteto a apostar no garantido feijão com arroz desta vez. Não é um momento ousado na trajetória dos músicos, tampouco brilhante, como nos tempos de "Achtung! Baby" (1991). Mas não deixa de ser uma experiência bastante agradável. Já de cara, os cinquentões voltam à adolescência e lembram de um dos maiores ídolos daquela geração em "The Miracle (Of Joey Ramone)", que não é punk, mas sim uma sincera homenagem à icônica banda em uma música com a marca do U2. "Eu acordei no momento em que o milagre ocorreu/ Ouvi uma canção que fez sentido neste mundo/ Tudo o que eu havia perdido, retornou/ O som mais lindo que já tinha ouvido", canta a letra.

Os vocais à la Beach Boys do início de "California (There is no End to Love)" levam o público a um passeio pelo estado norte-americano à época da primeira vez em que tocaram naquelas terras. Já "Raised by Wolves" relembra um atentado à bomba na capital irlandesa Dublin. Não possui a força de "Sunday Blood Sunday" (clássico cuja temática é semelhante), mas é um dos melhores momentos do álbum.

Há, ainda, recordações de amores antigos, amigos de infância e cicatrizes que o tempo não foi capaz de fechar. É o caso da catártica "Iris (Hold Me Close)", em que Bono canta em primeira pessoa à sua mãe, falecida quando o cantor tinha 14 anos, e da enérgica "Volcano" em que fantasmas do passado são novamente ressuscitados, enquanto Adam Clayton dita o ritmo com um baixo mais pesado do que de costume. É a melhor faixa de "Songs of Innocence", taco a taco com a suave "Every Breaking Wave" e a quase onírica "The Troubles", música derradeira, em que Bono divide os vocais com a cantora sueca Lykke Li. Encerrar um álbum assumidamente sobre o passado com uma canção que busca entender como lidar com problemas talvez seja uma constatação sincera do que o U2 precisou fazer para manter-se relevante com essa nova obra.

A+
A