Scorpions faz bom (mas incompleto) balanço da carreira em "Return to Forever"

Era mais do que certo que a alardeada aposentadoria do Scorpions ficaria apenas no falatório. Mas não, não coloquemos em xeque a sincerid…

Era mais do que certo que a alardeada aposentadoria do Scorpions ficaria apenas no falatório. Mas não, não coloquemos em xeque a sinceridade dos veteranos roqueiros alemães. A verdade é que eles ainda têm lenha para queimar, e a boa impressão deixada por 'Sting in the Tail', de 2010, só ratificou isso. Agora, no ano em que celebra 50 anos de sua primeira formação (que ainda conta com dois integrantes), a banda lança seu 18º álbum de estúdio, 'Return to Forever', e, embora não entregue nada além do esperado, desfila com passos firmes em um território que dominam com autoridade.

Antes de se estabelecer como um grupo de hard rock puro, mais para o final dos anos 70, com 'Lovedrive' (1979), o Scorpions transitou por outras vertentes em seus primeiros discos, chegando a flertar com o rock progressivo e o heavy metal (com direito a doses de psicodelia nos tempos em que o lendário Uli Jon Roth deitava e rolava na guitarra). 'Return to Forever' olha para trás, mas se detém mais na sonoridade que a banda alcançou com seus clássicos 'Blackout' (1982) e 'Love at First Sting' (1984) e até mesmo no farofeiro 'Savage Amusement' (1988). Foi quanto o Scorpions procurou deixar sua música mais agradável aos ouvidos norte-americanos para, assim, alcançar o reconhecimento comercial neste inegavelmente importante mercado fonográfico.

Não por acaso, pelo menos oito das canções que fazem parte deste novo álbum são frutos de materiais não finalizados da década de 80 - até alguns riffs e letras enfarofados acabam dando as caras. O impacto causado pela abertura de 'Return to Forever' é inegável. Três petardos, que, embora não tenham o mesmo peso do início de 'Sting in the Tail', dão o tom do que vem por aí. "Going Out With a Bang" surpreende por seu andamento uptempo, enquanto a divertida "Rock My Car" foi claramente resgatada de algum lugar no passado. Mas é em "We Built This House", o primeiro single do disco, que o velho escorpião se engrandece e mostra o quanto seu veneno ainda é perigoso. Com uma letra que faz, de maneira alegórica, um balanço dessas cinco décadas de estrada, o Scorpions entrega uma música carregada de simbologismos e defendida com emoção por Klaus Meine - cuja voz, aos 66 anos, segue irrepreensível e soa até mais potente do que em discos anteriores.

Outro pilar do rock escorpiano, o guitarrista Rudolf Schenker não se arrisca em seus riffs, e é nítido que tanto ele quanto o baterista James Kottak e o baixista Pawel Maciwoda economizaram no peso da maioria das faixas. Não que o resultado seja ruim, mas em alguns momentos 'Return to Forever' carece de uma musculatura mais imponente. Matthias Jabs, contudo, arruma espaço para mostrar que sua técnica e feeling seguem apurados, ainda que não haja, de fato, nenhum solo inesquecível no trabalho.

As baladas, outrora carros-chefe de discos da banda, continuam seu porto seguro, e variam entre inspiradas ("House of Cards", uma das melhores da safra, e "Who We Are") e previsíveis ("Gypsy Life", "Eye of the Storm"). Alternando canções exageradamente pops, como "Rollin' Home" e "The World We Use to Know", e outras mais "violentas", como "Rock 'N' Roll Band", o álbum acaba soando como um registro sincero de muito (mas não tudo, infelizmente) o que o Scorpions fez ao longo de 50 anos - do puro hard rock de 'Animal Magnetism' (1980) à bizarrice experimental de 'Eye to Eye' (1999).

A+
A