Giorgio Moroder resgata a Era Disco no dançante 'Déjà Vu'

Desde que foi trazido de volta aos holofotes pelo Daft Punk, Giorgio Moroder (re)vive um momento de produtividade e exposição que talvez…

Desde que foi trazido de volta aos holofotes pelo Daft Punk, Giorgio Moroder (re)vive um momento de produtividade e exposição que talvez só se assemelhe ao que ele experimentou durante a década de 70.

À época, o produtor e compositor italiano surfava alto nas ondas da disco music (estilo que ele praticamente criou a partir da inserção massiva de sintetizadores), muito graças a sua bem-sucedida e notória parceria com Donna Summer, a Rainha da Disco.

Agora, após 30 anos sem lançar um trabalho inédito, Giorgio está de volta não apenas ao mercado, mas à própria disco que ele ajudou a forjar. Nesse contexto, é mais do que adequado batizar o novo álbum de "Déjà Vu": a sensação de "já vi isso antes" é inevitável, tanto para o músico quanto para seus fãs.



Mas não se trata de uma volta no tempo nostálgica. O déjà vu de Giorgio tem, claro, elementos do passado, mas o foco deste projeto é o presente. Sobretudo, como ele, aos 75 anos, conseguiu atualizar sua sonoridade a um público mais jovem (que, muito provavelmente, sequer sabia de sua existência até algum tempo atrás) sem se descuidar de seu legado, recheado de obras-primas como as trilhas sonoras de "O Expresso da Meia-Noite" (1979) e "Scarface" (1983), além de inúmeras colaborações que resultaram em clássicos como "Take My Breath Away" (aquela do "Top Gun")  e "Cat People (Putting Out Fire)", de David Bowie.

Com a experiência de quem trabalhou com grandes nomes da música internacional - e visando esse approach com a garotada que curte fritar nas pistas de dança -, Giorgio escalou um time coeso e bastante competente para dar voz às suas composições. Primeiro single de "Déjà Vu", "Right Here, Right Now" traz Kylie Minogue em uma dançante canção que transborda disco sob todos os aspectos sonoros, inclusive nos insinuantes versos. É um momento marcante de um álbum enxuto, vibrante e que não dá descanso a quem resolver escutá-lo dançando. Mesmo as composições mais "calmas", como "Don't Let Go", interpretada por Mikky Ekko, vêm com refrões poderosos e batidas envolventes.


Nomes extremamente novos dentro da indústria fonográfica, a inglesa Foxes e a sueca Marlene abraçam com gosto a oportunidade de trabalhar ao lado de um pioneiro como Giorgio. Suas faixas, "Wildstar" e "I Do This For You", respectivamente, representam os dois caminhos que o veterano compositor trilhou neste disco. Enquanto a primeira carrega diversas referências setentistas (incluindo um discreto sample de "Chase", clássico instrumental de Giorgio), a segunda dá ares mais contemporâneos ao álbum, com uma pegada R&B que quase destoa do conjunto (não pela qualidade, mas pelo estilo mesmo). Enquanto isso, Kelis empresta seu vozeirão para "Back and Forth", uma das melhores, com um groove de dar orgulho à Donna Summer.

Contando ainda com três músicas instrumentais - "4 U With Love", "La Disco" e a sensacional "74 Is the New 24" -, "Déjà Vu" tem na canção-título o registro mais sólido do quanto esse gênero musical foi - e continua - relevante. É o momento em que Giorgio coloca os óculos estilosos, alinha o bigodão e volta de vez aos anos 70, sem qualquer resquício de contemporaneidade. O pacote é completado pela brilhante interpretação de Sia (com sobras, a melhor cantora dessa enorme safra atual de "divas"), que transforma a canção em um legítimo hino de discoteca. Falta alguma coisa? Ah, sim. O polêmico cover de "Tom's Diner" (clássico de Suzanne Vega nos anos 80), com Britney Spears assumindo os vocais. Embora tenha sido um pouco contestada, a versão ganhou corpo com a batida eletrônica, e Britney não compromete em nada o resultado. Giorgio sabe o que faz.

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