'A Menina Submersa: Memórias', de Caitlín R. Kiernan

Eu acredito que uma pessoa só descobre se uma coisa é boa ou ruim experimentando. Com livros principalmente. Levo em consideração a opi…

Eu acredito que uma pessoa só descobre se uma coisa é boa ou ruim experimentando. Com livros principalmente. Levo em consideração a opinião alheia, mas dificilmente baseio minhas escolhas por elas. Com 'A Menina Submersa: Memórias', de Caitlín R. Kiernan, foi assim. 

Eu não sabia muita coisa sobre a história, sobre o livro ou sobre a autora antes de começar a ler. Sabia que se tratava de uma personagem esquizofrênica e que seria uma história sobre fantasmas, mas nada além disso, então resolvi dar uma chance, e quase desisti da leitura no meio do livro.

Quando alguma coisa deixa uma forte impressão em nós, deveríamos fazer o nosso melhor para não esquecer. (p. 22)

Logo no começo do livro, India Morgan Phelps (ou apenas Imp) fala que será uma história sobre fantasmas e sereias. Mas esqueça do conceito sobrenatural e mítico sobre eles, os fantasmas descritos por Imp são os fantasmas do passado como recordações, pensamentos, acontecimentos, relatos, aquilo que ainda pode nos atormentar, nossos medos mais profundos.

Imp é uma jovem diagnosticada com esquizofrenia desorganizada que evolui para esquizofrenia paranoica. Além disso, ela também sofre de aritmomania e TOC (transtorno obsessivo-compulsivo). Apesar disso tudo tenta levar uma vida normal, trabalhando em uma loja de material para pintura, pintando seus quadros e escrevendo seus contos (e livro). Após o aparecimento da(s) Eva Canning e ser abandonada pela namorada, Imp decide escrever um livro, não para publicar ou ser lido por outras pessoas, mas para tentar por em ordem seus pensamentos e memórias, e contar suas histórias de (sobre seus) fantasmas. Os fantasmas de Imp são sereias, lobisomens e Eva Canning.

Fantasmas são essas lembranças fortes demais para serem esquecidas, ecoando ao longo dos anos e se recusando a serem apagas pelo tempo. (p. 23)

A história é narrada em primeira pessoa pela protagonista, portanto a escrita não é linear, justamente para mostrar ao leitor como funciona uma mente em crise. É possível sentir a confusão mental que Imp se encontra, ao ponto do leitor também se sentir um pouco perdido, confuso. O que acompanhamos é a escrita de Imp, de maneira desorganizada e sem preparação. Em diversos momentos ela interrompe a história e conversa consigo, acrescenta coisas e da outra versão de um mesmo fato.

Mesmo tendo um enredo interessante e construção de personagens femininas fortes, o livro não me conquistou. A narrativa não linear e as interrupções me fizeram ficar super perdida, entediada, cansada, sem vontade de ler. Quase desisti da leitura diversas vezes e ainda estou sem entender muita coisa para falar a verdade, não sei definir o que sinto por esse livro. Durante a leitura busquei outras resenhas, ver o que outras pessoas pensavam sobre o livro e ver outras perspectivas me ajudou a entender um pouquinho a história.

Quanto à edição a Darkside Books mais uma vez não poupou esforços. O livro é lindo, a capa dura e com relevos é maravilhosa, vem uma fitinha para marcar a página e a lateral rosa pra complementar. O miolo também é incrível, com desenhos, arabescos e diagramação boa.

É um livro muito denso, complexo. Não é um livro para qualquer um. Com certeza não foi um livro pra mim. Mas o fato de não ter funcionado comigo, de não ter sido uma boa experiência literária para mim, não significa que vai ser o mesmo para você. Se estiver com vontade de ler 'A Menina Submersa: Memórias' vá em frente, dê uma chance! Conheço pessoas que amaram e outras que odiaram. Pode vir a ser a melhor ou pior leitura da tua vida, mas você só descobrirá lendo.

O que mais tememos não é o conhecido. O conhecido, por mais horrível ou prejudicial à existência, é algo que podemos compreender. Sempre podemos reagir ao conhecido. Podemos traçar planos contra ele. Podemos aprender suas fraquezas e derrotá-lo. Podemos nos recuperar de seus ataques. Uma coisa tão simples quanto uma bala poderia ser suficiente. Mas o desconhecido desliza através de nossos dedos, tão insubstancial quanto o nevoeiro. (p. 170)

Compre 'A Menina Submersa: Memórias'
Postar um comentáriofacebookdisqus

0/0 Comentários/Comentários

A+
A