'Biblioteca de Almas', de Ransom Riggs

Quando li a sinopse do primeiro livro logo fiquei com vontade de ler, pois acreditava se tratar de uma história de suspense/terror. C…

Quando li a sinopse do primeiro livro logo fiquei com vontade de ler, pois acreditava se tratar de uma história de suspense/terror. Comprei os livros por impulso e depois descobri serem livros de fantasia jovem adulto, um gênero literário que, assim como ficção, não me agrada. Disse na resenha do primeiro livro que foi uma grata surpresa, pois a história me cativou, e ao terminar o terceiro livro da trilogia esse sentimento permanece.
Eu já havia matado meus demônios, mas as vitórias eram efêmeras: outros haviam se erguido rapidamente para substituí-los. (p. 110)
Em 'Biblioteca de Almas', terceiro e último livro da série de Ransom Riggs, 'O lar da Srta. Peregrine para crianças peculiares', acompanhamos a reta final da jornada de Jacob e Emma para salvar suas ymbrynes e seus amigos raptados pelos acólitos, bem como todo o mundo peculiar. Juntamente com o cão Addison, partem em busca de pistas para encontrar os outros peculiares pelas ruas de Londres do século XXI, enfrentando pelo caminho diversos problemas, além de pessoas que não sabem se podem confiar, pois tudo é muito intenso, rápido e incerto e qualquer decisão precipitada pode colocar eles e os outros em risco.
Isso não significa que você não possa – disse Reynaldo. – No início da vida, nós reconhecemos alguns talentos em nós mesmos e nos concentramos neles, excluindo os outros. Não é que mais nada seja possível, é que mais nada foi cultivado. (p. 231)
O trio conhece então Sharon, um barqueiro misterioso e também peculiar que os leva para o Recanto do Demônio, uma desagradável fenda dominada pelos acólitos, onde todo tipo de atrocidade e desumanidade acontecem. Em meio a tudo isso, novos personagens surgem, desempenhando papéis importantes e decisivos para o desenrolar da trama e conhecemos mais da vida e história da Srta. Peregrine. Neste terceiro livro Jacob está mais maduro e ciente de seu papel no mundo peculiar, obrigando a se colocar como líder. Fica bem nítido esse amadurecimento na seguinte passagem:
Nós podíamos esperar e torcer para que fossem embora, ou abrir a porta e enfrentá-los. A última opção era mais corajosa e rápida, por isso invoquei o novo Jacob e lhe disse que íamos abrir a porta e lutar, e, por favor, que ele não discutisse a questão com o Velho Jacob, que iria inevitavelmente choramingar e resistir. (p. 261)
Assim como os dois primeiros livros, 'Biblioteca de Almas' nos traz alguns pontos para refletir. Em 'O lar da Srta. Peregrine para crianças peculiares' somos apresentados o mundo peculiar e seus habitantes, mas também somos levados a acreditar em nossos objetivos e metas.

No segundo livro, 'Cidade dos Etéreos' é abordado de maneira mais aberta à importância de aceitar as diferenças e a dificuldade de fazer escolhas e abrir mão de certas coisas. Aqui é bem marcado o egoísmo/ambição versus amor/amizade/companheirismo, pois são trabalhos princípios como autoconfiança, empatia, superação, sensibilidade, solidariedade, atenção e amor ao próximo.

Há muitas demonstrações desses valores ao decorrer do livro. Um senso de fidelidade e companheirismo entre os personagens, que na vida real muitas vezes não vemos, não havendo espaço para egocentrismo, individualismo, orgulho e vaidade. Vemos o sentido literal de "um por todos e todos por um", pois vários são os perigos que os personagens enfrentam para salvar e proteger aqueles que amam.
Sinto saudade do meu avô todos os dias, mas um amigo muito inteligente uma vez me disse que tudo acontece por uma razão. Se eu não o tivesse perdido, bem, eu nunca teria conhecido vocês. Então acho que tive que perder uma parte da minha família para encontrar outra. Enfim, é assim que me sinto com vocês. Como da família. Como um de vocês. (p. 302)
Assim como no livro anterior, 'Biblioteca de Almas' começa exatamente onde 'Cidade dos etéreos' terminou, fazendo com que a transição entre os livros seja muito suave, sem quebra de raciocínio. Também em versão capa dura, a diagramação segue o mesmo padrão do livro anterior, com fotos e ornamentos nas páginas, bem como um glossário de termos peculiares, explicando ou relembrando o que são fendas, peculiares, ymbrynes, etéreos e acólitos.
Apenas uma história. Mas nunca era apenas uma história. Isso tinha se tornado uma das verdades definidoras da minha vida, pois por mais que eu tentasse mantes as histórias aplanadas, bidimensionais, presas em papel e tinta, sempre haveria aquelas que se recusavam a ficar restritas ao interior dos livros. Eu sabia: uma história tinha engolido toda a minha vida. (p. 330)
A trilogia 'O lar da Srta. Peregrine para crianças peculiares' merece uma chance de todo leitor por trazer reflexões pertinentes e ao mesmo tempo ser uma leitura tranquila, prazerosa (mesmo tendo sucessões de problemas e obstáculos que os personagens enfrentam) e rápida, pois a escrita de Ransom Riggs é leve e carrega o leitor de forma suave entre as páginas.
Mas eu tinha passado por privações muito maiores naquele verão, e se uma perda temporária de liberdade fosse o preço a pagar pelos amigos que fizera, as experiências que tivera e a vida extraordinária que eu agora sabia ser minha, isso parecia ser uma pechincha. (p. 388)

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