A dificuldade de dizer "estou com saudade" em 'Namorando em Nova York'

Comédia romântica está disponível na HBO Max
Publicado originalmente no Diário de Santa Maria

Claramente inspirado em 'Harry e Sally: Feitos um para o Outro' e nas narrativas nova-iorquinas de Woody Allen, 'Namorando em Nova York' (Dating & New York) é um filme com roteiro e direção de Jonah Feingold, disponível na HBO Max. A comédia romântica mostra, em sua maior parte, relacionamentos que surgiram a partir de aplicativos e também como é cada vez mais difícil demonstrar sentimentos ou admitir que está gostando de alguém.

Milo (Jaboukie Young-White) e Wendy (Francesca Reale) são dois jovens adultos que estão construindo suas carreiras em Nova York e de certa forma estão acostumados com relacionamentos casuais, com pessoas que conhecem em festas ou até encontros com pessoas que conheceram por aplicativos. Nada muito fora do comum para a geração que vive atualmente seus 20 a 40 anos. 

Porém o relacionamento deles é bom, tem seus momentos tranquilos, alguns de atritos, mas nada que não seja resolvido com alguns momentos de conversas, muitas dessas extensas demais para os primeiros 30 minutos do filme. Apesar disso, eles percebem que não foi só uma ficada, mas também não é um namoro. De certa forma, faz eles questionarem a amizade que criaram dentro daquele tempo que estão juntos.


Nas últimas semanas algumas matériaspodcasts e até um quiz, comentaram sobre uma narrativa que circula na internet dos "ficantes premium", ou seja, aquela pessoa que você sai, tem uma certa exclusividade, mas não quer assumir nenhuma relação com ela. E considerando a narrativa do filme, podemos dizer que Milo e Wendy fizeram parte dessa "classificação", mas no momento que os sentimentos começaram a se intensificar, parecia que algo estava errado. Ou melhor, que poderia estragar tudo.

Talvez o que seja mais assustador nos relacionamentos atuais é perceber que para muitos o amor parece algo fácil, que em semanas se resolve, como foi com os amigos dos protagonistas no filme, Jessie (Catherine Cohen) e Cole (Jerry Ferrara). O que é simples para muitos, para outros pode ser bem mais demorado, se é que podemos temporizar esses momentos. Seja por uma dificuldade de compartilhar sentimentos ou simplesmente por não ter certeza de que tipo de relacionamento quer no momento. Isso sem falar quando a pessoa desiste muito antes de tentar alguma possibilidade.

Para mim o que mais me identifiquei no filme foram as vezes que os personagens perdiam a coragem de dizer "estou com saudade". Uma expressão tão simples, digna de sentimentos, seja pela distância ou falta de tempo, ainda é muito complexa de se dizer. Talvez, por muitas vezes, a saudade é colocada como uma situação de dependência física ou emocional. Só que esquecemos que a saudade é uma necessidade básica. É normal sentir falta. Assim como deveria ser normal chorar por que gosta de alguém e não é correspondido.


'Namorando em Nova York' ainda traz exemplos de como a responsabilidade afetiva é necessária em qualquer tipo de relacionamento. Seja ele um namoro virtual, real ou até mesmo uma longa amizade. Precisamos estar abertos a escutar mais os outros, entender que nem todo mundo pensa e age da mesma forma. 

Ainda faltam visões e representações na ficção de relacionamentos felizes e saudáveis, mesmo após um término. Aqueles que você pode simplesmente respeitar os sentimentos um do outro. Dessa forma, a frase final do filme representa muito mais que uma narrativa do "felizes para sempre".

O diretor e roteirista Jonah Feingold já está trabalhando em dois novos filmes do mesmo estilo ('What Are We?' e 'At Midnight'), mas sem previsão de lançamento. Quem sabe essa visão seja abordada muito em breve em suas histórias.


Postar um comentáriofacebookdisqus

0/0 Comentários/Comentários

A+
A