A fuga do luto na adaptação literária de 'O céu está em todo lugar'

Com roteiro da autora Jandy Nelson, filme está disponível na Apple TV+


'O céu está em todo lugar' foi um dos primeiros livros que recebi em uma antiga parceria com a Editora Novo Conceito. Diferente de outras histórias, esse tinha muito diferencial, principalmente por acompanhar inúmeras páginas coloridas com cartas escritas à mão, que marcavam a comunicação de duas irmãs. 

Na época, lembro de não entender muito bem o sentimento de luto que a protagonista passava, mas o tempo e as perdas pela vida mostraram que não é tão fácil deixar esses sentimentos irem embora. A adaptação da obra de Jandy Nelson, chegou na Apple TV+, quase 12 anos após o lançamento do livro.

Na história acompanhamos Lennie Walker (Grace Kaufman), uma adolescente que é um prodígio musical e está de luto pela morte de sua irmã, Bailey (Havana Rose Liu). Ela tem dificuldade de seguir em frente, reencontrar seus colegas de escola e muitas vezes compartilhar esses sentimentos com sua avó (Cherry Jones) e tio (Jason Segel), que criaram ela e a irmã, após a morte precoce da mãe.


Tentando seguir em frente, ela se vê apaixonada por Joe Fontaine (Jacques Colimon) um novo aluno da escola que também está na sua aula de música. Mas além dele, Lennie se vê preocupada com o ex-namorado de sua irmã, Toby Shaw (Pico Alexander). Nesse momento, seus sentimentos começam a se misturar e ela age de diferentes formas: uma para confortar seu coração em relação a perda, se apegando a pessoas do passado; e a outra é percebendo que o futuro reserva inúmeras coisas boas para ela.

É visível como o luto é diferente para cada um. Independente do tipo de laço afetivo que você carrega. Para Lennie, o luto a impediu de tocar clarinete, entender que poderia se apaixonar e que poderia ser amada. Além disso, tem a raiva que traz os momentos mais difíceis, mas que de certa forma colaboram com algumas superações que não tivemos coragem de perceber antes.

A forma como o luto é apresentada, faz com que Lennie se sinta egoísta ou que até esteja traindo seus instintos, quando apresentar vontades e desejos. Com o tempo, ela percebe que seguir em frente e manter boas lembranças, não é errado.

Uma frase do filme que marcou muito foi a seguinte: "Não quero desperdiçar minha vida por estar com medo." Sem dúvidas, é uma grande verdade. O medo nos aprisiona muito e mesmo sendo difícil de seguir em frente, é necessário enfrentar e buscar o melhor para nossas vidas.


Mesmo com toda essa distância entre os lançamentos, a visão poética que o livro trazia não se perdeu no filme. Principalmente quando vamos falar da parte visual, algo que é muito marcante nas produções da A24

Foi incrível como a adaptação trouxe um exagero teatral que eu não esperava, mas que realiza uma conexão muito boa com a narrativa artística das irmãs, que envolve teatro e música. A cena com Lennie e Joe sendo abraçados pelas flores é incrível!

Um detalhe que quero ressaltar foi o pequeno tempo de tela da personagem Sarah (Ji-young Yoo), melhor amiga da protagonista. Na minha memória do livro ela era mais presente na história. No filme, vi que ela foi encaixada como um alívio cômico.

Apesar das críticas e notas gerais da internet não serem muito animadoras, considero esse filme incrivelmente bom. Ele não é uma comédia adolescente, fica muito longe disso. Mas acho importante apresentar a narrativa do luto entre jovens, que muitas vezes podem não ter um apoio familiar e de amigos para seguir em frente. Talvez até por nunca terem vivido algo parecido ou também não sabem lidar com o assunto.

Da autora Jandy Nelson, o livro 'Eu te darei o sol' foi adquirido pela Warner em 2015 para uma adaptação, mas nada novo foi anunciado sobre a produção.

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