'Um Lobo entre Cisnes' é um drama brasileiro que narra a inspiradora trajetória de Thiago Soares, jovem da periferia do Rio de Janeiro que, após se destacar no hip hop, mergulha no universo do balé clássico. Estrelado por Matheus Abreu, o longa é dirigido por Marcos Schechtman e Helena Varvaki e tem roteiro de Camila Agustini, inspirado em uma história real. Com uma produção visual sofisticada, o filme transita entre a as ruas cariocas e os palcos internacionais, especialmente os de Paris.
O filme impressiona ao retratar a dança como linguagem universal e instrumento de transformação social. As cenas de aprendizado, técnica e performance no balé são conduzidas com extrema sensibilidade e cuidado visual, funcionando como um balé entre corpo, câmera e emoção. A relação entre Thiago e seu mentor, Dino Carrera (Darío Grandinetti), traz ainda um arco emocional forte, que equilibra tensão e parceria em nome do crescimento artístico.
Além da força estética, chama atenção o cuidado com os cenários, como o Theatro Municipal do Rio e a Ópera Garnier em Paris, que ajudam a construir a dimensão simbólica e realista da história do bailarino. A fotografia valoriza cada ambiente como parte do processo de amadurecimento de Thiago, reforçando a ideia de que a arte é tanto território de ruptura quanto de pertencimento.
No entanto, o filme escorrega em sua insistência em afirmar a heterossexualidade do protagonista. Entre diálogos redundantes e cenas de sexo que parecem querer reiterar algo já evidente, o roteiro perde a chance de explorar com mais nuance a complexidade emocional do personagem. A tentativa de afastar qualquer dúvida sobre a orientação sexual soa defensiva, especialmente num filme que se propõe a questionar estereótipos e promover liberdade de expressão através da arte.
Apesar desse excesso, 'Um Lobo entre Cisnes' acerta ao mostrar que vulnerabilidade e disciplina podem coexistir. A dança não é apenas técnica, mas expressão emocional, política e identitária. O longa emociona e inspira, reafirmando o poder da arte de abrir portas, derrubar muros e reinventar futuros, inclusive para aqueles que nasceram fora dos palcos.