Bruce Springsteen e o 11 de setembro

Há 12 anos, o maior atentado terrorista da história voltou as atenções do planeta à Nova York. Naquele fatídico 11 de setembro de 2001 ,…
Há 12 anos, o maior atentado terrorista da história voltou as atenções do planeta à Nova York. Naquele fatídico 11 de setembro de 2001, a "cidade que nunca dorme" viveu um pesadelo de proporções até então inimagináveis, quando dois aviões colidiram contra as torres gêmeas do World Trade Center, a mando da organização fundamentalista islâmica al-Qaeda (há controvérsias...). Em meio a escombros, fumaça, desespero e muitas lágrimas, quase 3 mil pessoas morreram na tragédia, e a nação mais poderosa do mundo viu-se enfraquecida, psicologicamente arruinada e até hoje convive com os ecos de uma bela manhã de outono que se transformou, em minutos, em um sinistro dia que jamais acabará.


Conhecido pela forte identificação com o proletariado dos Estados Unidos, o veterano músico Bruce Springsteen sempre fez de suas composições um espelho da sociedade norte-americana em determinadas épocas. Cantou o 'sonho americano' e suas consequências em meio a uma juventude rebelde em 'Born to Run', de 1975; o mesmo tema, com tom mais pessimista, em seu melhor álbum, 'Darkness on the Edge of Town' (1978) e criticou ferozmente o rescaldo da guerra do Vietnã no virtuoso 'Born in the USA' (1984). Com carreira consolidada em pouco mais de uma década, Bruce calcou sua imagem como contador de histórias da classe-média trabalhadora e eterno inconformado com o sistema. Durante um longo período (final dos anos 80 até início dos 2000), porém, ele experimentou uma inédita instabilidade artística e, à exceção do sombrio e tocante 'The Ghost of Tom Joad', de 1996, seus demais discos lançados nesses anos não são tão dignos de nota quanto os antecessores.
Era certo que os atentados de 11 de setembro não passariam incólumes ao espírito inquieto e por vezes ufanista do Boss (apelido de Bruce). As pessoas necessitavam de um alento, precisavam continuar com suas vidas, e ele chamou a responsabilidade para si ao lançar 'The Rising', em 2002. O título não poderia ser mais apropriado, afinal, Springsteen dava "a volta por cima", "ressurgia", e convocava seus pares a fazerem o mesmo. Embora conte com músicas de forte apelo emocional, o disco surpreende não só pelo conjunto, impecável, mas pela pegada otimista de várias canções. Musicalmente, 'The Rising' apresenta o calejado roqueiro em sua melhor forma, mas representa muito mais do que apenas isso. Bruce preocupou-se em criar um grande mosaico da tragédia, onde cada peça/música conta uma história diferente: do comovente relato de uma pessoa que passeia por uma casa "vazia" após perder seu parceiro em 'You're Missing', ao anseio por dias melhores na simpática 'Waitin' On A Sunny Day'.

Versátil, o álbum flerta com o folk em algumas faixas ('Into The Fire', 'My City Of Ruins'), mas é nas guitarras pesadas de 'Further On (Up the Road)' e da marcante 'Worlds Apart' - uma alegoria sobre diferenças étnicas - que o músico encontra sua catarse, escancarada no refrão rasgado da faixa-título: "Levante-se para a volta por cima/ Levante-se, junte suas mãos com as minhas/ Levante-se para a volta por cima/ Levante-se para a volta por cima esta noite". 'The Rising' poderia ser um disco repleto de patriotismos gratuitos e mensagens sentimentalistas - e, convenhamos, até seria aceitável, dadas as circunstâncias -, mas, felizmente, não era essa a intenção de Springsteen, que optou por temas menos abrangentes, mais intimistas, e ainda contou com o luxuoso apoio de sua lendária banda, a 'E Street Band', após alguns anos de separação. 

'The Rising' marcou o retorno do Chefão à linha de frente do rock. Representa o que ele produziu de melhor em anos, além de ter importante participação na reconstrução do moral dos estadunidenses e da própria carreira, que teve continuidade com o lançamento de outros quatro álbuns de inéditas ('Devils & Dust', 'Magic', 'Working On A Dream' e 'Wrecking Ball'), todos excepcionais. Nesta quinta-feira, 12 de setembro, Bruce se apresenta em Santiago, no Chile, em show que marca sua volta à América Latina após 25 anos. No próximo dia 18, ele toca em São Paulo, no Espaço das Américas, e, três dias depois, encerra a penúltima noite do Palco Mundo do Rock in Rio.

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