Cinquenta Tons de Cinza | Crítica

As críticas em torno do polêmico 'Cinquenta Tons de Cinza' foram além daquelas sussurradas ao pé do ouvido, ocupando espaço em…

As críticas em torno do polêmico 'Cinquenta Tons de Cinza' foram além daquelas sussurradas ao pé do ouvido, ocupando espaço em diversos feeds de notícias, reportagens e manifestos. Confesso que, embora esteja longe de ser minha temática favorita, todo esse bafafá só aguçou minha curiosidade em descobrir o motivo para tanto debate.

Para os desavisados, 'Cinquenta Tons de Cinza' é baseado no livro homônimo de E. L. James e foi dirigido por Sam Taylor-Johnson. O filme conta a intensa história do relacionamento (se é que dá para chamar de relacionamento) entre Christian Grey (Jamie Dornan), um jovem, galã, ricaço, boa pinta (ok, nem tanto) com a inocente estudante de Literatura Anastasia Stelle (Dakota Johnson). Nesse encontro quase catastrófico, os personagens acabam se envolvendo em uma jornada perturbadora sobre o amor (será?), sexo e práticas BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo).

Pois bem, o bonitão e engomadinho Sr. Grey é dono de uma personalidade vazia, sem importância e possui gostos bastante peculiares entre 4 paredes. Jamie Dornan foi roboticamente treinado para recriar o pedante protagonista. Os tais gostos peculiares é um dos motivos de tanta polêmica: Sr. Grey gosta é de “dar pau na mulherada na hora H” e só sente prazer dessa forma. Tudo bem até então, não fosse o fato da mocinha virgem não curtir as pauladas e querer um “só love”.

E para conquistar a gatinha, Sr. Grey enche a donzela indefesa de presentinhos (nada de flores, meus caros, e sim, MacBook, carro - mas nada de um celular novo) tentando convencê-la a ser a submissa da relação. Isso inclui tomar umas boas dumas pauladas, ter uma alimentação regrada, não consumir álcool em demasia e outras exigências bizarras. Veja bem, aí mora o problema: a dita cuja não é totalmente condizente com a prática BDSM e só se rende ao bonitão porque realmente gosta dele e tem esperança de um amor de novela. Ela acha que "ele vai mudar" por ela. Digo mais, aos meus olhos isso se torna doentio, pois Anastasia abdica de suas escolhas pessoais para satisfazer Sr. Grey, ultrapassando os limites das 4 paredes.


Entre algumas cenas de sexo “convencional” papai e mamãe (afinal era preciso desvirginar a moçoila) e outras nem tanto (chicotadas e vendas) o filme peca em alguns aspectos: o sexo é limpinho, ninguém sua (e nem fede - provavelmente), tornando o sexo quase puritano, faltando a selvageria esperada do “polêmico” sexo BDSM. Também senti falta de tensões sexuais - que, infelizmente, não ocorreu principalmente pela falta de química entre os dois atores.


Conflitos fracos, histórias vazias e atitudes retrógradas. O que imaginei que seria uma narrativa sobre a libertação sexual na verdade se revelou só mais uma história de amor (doentio) regada a posturas machistas (tanto dele quanto dela) e reacionárias. O plano de fundo da história deveria ser o sexo BDSM e não o amor, como acabou se tornando a olhos vistos. O que valeu mesmo foi a trilha sonora, que trouxe os destaques para Annie Lennox, The Weeknd, Ellie Goulding e Beyoncé.


Cabe a cada um decidir junto ao seu parceiro o que irá rolar entre as quatro paredes, com o consentimento ambas as partes. E claro, que gere prazer para as pessoas em questão. E será que abdicar das próprias escolhas pessoais vale a pena por amor? A minha resposta vocês já devem imaginar.

Ah, e para os que desejam uma referência cinematográfica mais caliente, sugiro o filme "De olhos bem fechados" do diretor Stanley Kubrick com as incríveis atuações de Nicole Kidman e Tom Cruise.
A+
A