Se você veste um vestido e tem um animal de estimação, você é uma princesa.
Com essa tirada, um semideus polinésio perturba a filha de um cacique de uma ilha do pacifico que teima em ir contra essa ideia. Para todos os efeitos, ele está certo, e ela está errada. "A Filha do chefe é simplesmente 'princesa' em outro nome". Mas com isso, Moana, a nova personagem da Walt Disney, se protege da acusação de ser apenas mais um filme de princesa.
Melhor ainda são as atualizações ao mundo real. A heroína de 16 anos é semelhante a uma adolescente real, ao invés de uma Barbie, e olhando para o horizonte do filme, você pode ficar sossegado pois não vai detectar nada que se assemelhe remotamente a um interesse amoroso. Com esses pequenos detalhes já notamos que 'Moana: Um Mar de Aventuras' não é um filme convencional e que muda muito do que estamos acostumados nesse universo.
Ainda assim, tais avanços políticos são secundários ao puro virtuosismo da protagonista. O filme é um deleite absoluto, uma exuberante história cheia de números musicais apresentados com os visuais mais impressionantes de qualquer filme que a Disney já tenha feito. Poderia passar horas dando adjetivos para o visual do filme, mas podemos tratá-lo como "A mais bela animação visualmente já feita."
A Medida que a historia começa, Moana (dublada pela jovem atriz hawaiana Auli'i Cravalho - no Brasil, Any Gabrielly) é continuamente proibida pelo seu pai de se aventurar além do recife que circunda a ilha de Motunui. Mas a ilha e o oceano a sua volta estão morrendo lentamente, porque há muito tempo atrás um semideus chamado Maui (Dwayne Johnson - no Brasil, Saulo Vasconcelos) roubou - e posteriormente perdeu - o precioso coração de pedra da deusa Te Fiti. Quando o próprio mar confia esse coração a jovem Moana, ela sabe que deve atravessar o recife, encontrar Maui, e com sua ajuda restaurar o coração da deusa.
Embora a narrativa seja linear, há inevitavelmente perigos a serem enfrentados: uma horda de piratas que parecem ter saído direto de 'Mad Max', um caranguejo monstruoso (que em sua versão original em inglês, faz o Smaug passar vergonha); e o espirito de Lava conhecido como Te Ka.
Mas o principal obstáculo para Moana superar em sua jornada é aprender a lidar com seu parceiro nessa aventura, Maui. Um semideus egoísta, convencido e totalmente descompromissado em sua missão, pois ele também está sofrendo uma crise de confiança uma vez que perdeu seu anzol mágico (que é o detentor de todo seu poder).
Para quem é fã dos clássicos da Disney, vai notar semelhanças entre Moana - que desafia seu pai a aventurar-se pelo mar - e Ariel, de 'A Pequena Sereia'; já o problemático e polimorfo Maui lembra o Gênio, de 'Aladdin'. Aí se formos mais a fundo descobrimos que essas semelhanças possam não ser acidentais uma vez que os diretores do filme, Ron Clements e John Musker, também foram responsáveis pelos outros dois.
Outro ponto que não podemos deixar passar é a apresentação vocal encantadora de Dwayne Johnson, na versão original, há uma certa ironia no fato de que o ator que primeiro chegou as telas graças ao seu físico (Johnson era anteriormente conhecido como lutador profissional, por isso o apelido "The Rock") e fez o melhor trabalho de sua carreira sem o uso dele.
A Disney está em um momento de grandeza que é impossível não notar, a primeira desde os lançamentos 'A Pequena Sereia', 'Aladdin' e 'Rei Leão', que aconteceram há mais de 20 anos. Agora o que nota-se é a variedade de ofertas do estúdio desde a premissa de 'Detona Ralph', as virtudes de 'Frozen: Uma Aventura Congelante', a tendência asiática em 'Operação Big-Hero' e o inesperado e surreal 'Zootopia'.
'Moana' reside num espectro cinematográfico trazido por 'Frozen', uma história convencional com inovação suficiente para se sentir atual confiando principalmente em sua execução deslumbrante. Os números musicais são belamente executados e logo mais estará na boca das crianças (e dos adultos também, eu já sei metade das musicas).
Mas afinal, Moana é um "filme de princesa"?
Isso, você decide ao sair da sessão.