Na trama, Susan White (Fischer) e Robert McAllister (Franco) foram protagonistas da popular série 'Residentes', sendo celebrados como "o casal mais sexy da América", mesmo sem um envolvimento fora das telas. Agora, décadas depois, se reencontram em um quarto de hotel, em uma cidade de interior, onde vai ocorrer o velório de um ex-colega da série. Mais velhos e enfrentando o etarismo na indústria do entretenimento, dividem memórias, ressentimentos e sentimentos mal resolvidos, em meio às interrupções bem-humoradas do irreverente Boy do Hotel (Thiré).
Com uma narrativa espirituosa, inteligente e sensível, o espetáculo mergulha em temas contemporâneos como igualdade de gênero, assédio sexual, ética profissional e os desafios enfrentados por artistas maduros. Por meio de diálogos afiados e momentos de revelações, a peça promove um verdadeiro acerto de contas entre os personagens, revelando suas vulnerabilidades e a esperança de uma segunda chance para o amor.
A iluminação de Sérgio Martins é outro elemento que contribui para o dinamismo da peça, reforçando com precisão as nuances de tensão, revelação e desejo. Aliás, "nuances" é uma palavra recorrente nos discursos de Susan, ao falar de sua carreira, algo que se confirma quando o Boy do Hotel revela ter assistido toda a série 'Residentes' (no celular) e elogia a atuação dela.
Por ser uma obra originalmente norte-americana, a peça traz referências como 'Hannah Montana', o filme 'Yentl' e Coca-Cola Zero. Há uma vontade quase natural de ver essas citações adaptadas ao contexto brasileiro, especialmente considerando os históricos na dramaturgia de Vera Fischer e Leonardo Franco. Mas compreende-se que, por questões contratuais, essas mudanças nem sempre são possíveis. Ainda assim, o talento do elenco supera qualquer barreira cultural. Vera está em um momento cômico brilhante, com ótima sintonia com Leonardo e ainda mais com Vitor Thiré. Essa dupla, inclusive, é daquelas que dá vontade de ver de novo.